travessura de cordel

Este é o resultado de um projeto desenvolvido por Patrícia Mc Quade no ano de 2004, no Colégio Glória Andrade, com crianças entre 09 e 10 anos que criaram e escreveram folhetos de cordel, concebendo desde a estória até a capa de cada livreto. O trabalho foi feito a mão com o esforço de todos os envolvidos no projeto.

20.3.05

A dama da meia-noite


É uma história universal
Que se conta por aí
Seja na América e na Europa
Ou nas ilhas do Havaí
No Brasil, nem se fale
Do Oiapoque ao Chuí

Alguns dizem que é uma alma
Que não sabe que já morreu
Outros que é um fantasma
De uma jovem que muito sofreu
Eu de cá faço questão
De não saber o que aconteceu

A dama da meia noite
Usa um vestido vermelho
Um laço na cintura
E uma fita no cabelo
Apesar de ser tão bonita
Não aparece no espelho

Linda como é
Parece uma jovem normal
Gosta de se aproximar de homens
Em dias de festa ou carnaval
Nos bares ou botequins
Nas vendinhas de quintal

Senta com eles, vistosa,
Muito feliz, conversando e rindo.
Com algum tempo pede companhia
E para sua casa todos vão indo
Eles caminham depressa
Sem notar o que vem vindo

Ao chegar ao muro alto
Ela pára, já dizendo:
- Esta é a minha casa,

É aqui que estou vivendo.
No cemitério os homens se vêem
Com temor de mais horrendos.

Como névoa que se vai
Sua figura desaparece
Nesse instante na igreja
O sino dobra em prece
Doze badaladas

À meia noite acontece.

cordelista Natália Delamora

A menina e sua terra pobre


Por favor, me dê licença
Tenho muito que falar
Não vamos mais trabalhar
Vamos parar para escutar
Meu nome é Malu Mader Galu
Eu morava na cidade dos urubus.

Meu animal de estimação
Era um grande cachorrão
Ele era do sertão
Um dia passeava
Outro dia se sentava
Por comida esperava.

Um dia veio um furacão
E atacou esse meu cão
E eu fiquei assustada
Que cai até sentada
Ao lado de uma bruxa
Que mais se parecia uma bucha.

Era na verdade uma bruxa boa
Que morava na lagoa
Me deu um sapato
Que era todo pintado
De prata e ouro amarelo
Feito de cogumelo.

Segui uma estrada
Toda de ouro pintada
A bruxa agora era fada
Ela me deu uma espada
Pra eu seguir a estrada
Toda de ouro pintada.

Eu vi um homem de lata
Que parecia uma barata
E continuei a caminhada
Pela estrada pintada
Com homem de lata
Assustado com uma barata.

Vi um furioso leão
Que atacou o meu cão
Nele eu dei uma bronca
Ele ficou assustado assim
Pediu desculpas para mim
Mas não para o meu cão.

Continuei pela caminhada
Andando pela estrada pintada
Vi um espantalho
Que vestia suas tralhas
Ele muito falava
E torto andava.

E nós fomos à caminhada
Pela estrada pintada
Quando chegou o fim
Vimos o mágico de Oz Quindim
Ele realizava desejos
E eu pedi um pouco de queijo.

Pedi para voltar à minha terra
Só que não pode realizar
Disse que a bruxa boa do sul
Poderia me ajudar
Para poder voltar
A minha terra Carcará.

Passei por muitas casas
Muito legais e muito ricas
Enfrentei um deserto
Todo seco e amarelo
Vi rios e cascatas
Florestas e muitas matas.

Chegando depois da caminhada
Vi a bruxa folgada sentada
Na sua poltrona conversando
Com seu Juvenal
Perguntei a ela se podia
Voltar à minha terra natal

Me disse que sim
Minha caminhada teria um fim
Cheguei à minha casa
E ganhei uma asa de gavião
Para dar um susto
No meu cachorrão.

Dei pra minha mãe o queijo
E ela me deu um beijo
Fui lá para fora brincar
Para me lembrar
Da minha aventura
Que ficou suspensa no ar.

Minha mãe me chamou
Porque o Beto chegou
Nesta noite teve lasanha
E uma gostosa picanha
Fui ver as horas
Para eu ir lá para fora.

Já tinha dado a hora
De eu ir lá para fora
Só que a chuva e o trovão
Me obrigou a ver televisão
Parou o trovão e a chuva
E eu fui comprar uma luva.

Aproveitei e comprei pão
Para fazer um lanche grandão
Fui ouvir rádio
Lá no quarto do Mário
E comecei a me lembrar
Da aventura que tive no AR.


cordelista José Arthur Botelho

A história do andador


Peço a todos atenção
Para a história que venho contar
É o conto de um homem
Pescador que vivia a pescar
Mas aconteceu em um dia
Uma tragédia de arrasar

Em um dia bom pra namorar
O pescador pronto a pescar
Aconteceu um acidente
Ele quebrou a perna de repente
Precisou comprar um andador
Foi um dia de horror.

Depois de muito chororô
Ele ficou longos três meses
Preso no bendito andador
Ficou muito arrasado
Um tanto mal-humorado
Mas teve que agüentar a dor.

Todos ficavam rindo
Quando ele andava naquele troço
Foi quando ele parou e pensou:
-Estou andando nisto
porque eu realmente preciso
e quem rir vai engolir um osso.

Ele ainda mais pensava:
-Não ligarei para tanta risada
ninguém ajuda na minha desgraça.
Passou os dias e aconteceu
Numa sexta-feira que choveu
Ele do gesso livre se viu.

Quando foi tirar ele falou:
-Doutor eu não sei por que
todos ficam rindo de mim.
O doutor então respondeu:
-Olhe! O que aconteceu
com você foi imprevisto
não precisa mais ficar com isso.

Ele ficou semanas e semanas
Sem sequer sair de casa
Com muita vergonha de todos
Por causa da sua perna quebrada
Que agora remendada
Depois de ter sido engessada.

Mas ficou resmungando:
-Não vou ligar para isso não
vou sair e não sei que horas volto.
Ele saiu e cumprimentou
Seus amigos e pessoas queridas
Aqueles que passavam por ele
Todos os dias de suas vidas.

Todos ficaram felizes
Que ele voltou a andar
De volta à sua vida de sempre
Foi pescar e se alegrar
Sem pensar no dizer das pessoas
A não ser em coisas boas.

Este cordel está ai para ensinar
Que língua de gente magoa
Mas a gente deve ser forte
E não levar a sério fofoca
O que andam por ai falando

Só acredito no que estou pensando.

cordelista Anna Luiza Vilela

Confusão na selva


Em um mundo pequenininho
Muito engraçadinho tinha
Um menininho que pulava
E berrava de mansinho
Ele morava em um mundinho
Diferente e cheio de gente.

Aquele mundo parecia
Pequenininho, mas era
Grandão de montão
Igual a uma floresta
Cheio de alegria e festa
Com coloridas pétalas.

Um dia esse menino
Estava passeando
E encontrou um passarinho
Que falava e cantava
E não se cansava
E seguia cantando.

Neste dia os caçadores
Que matavam animais à toa
Para satisfazer seu prazer,
Prenderam o menino da selva
E os animais nervosos
Ficaram muito raivosos.

A coruja teve uma idéia
Mas a confusão da bicharada
Não dava para entender nada.
Ela disse: calem a boca!!!
Eu quero com vocês falar
Para o menino poder salvar.

A minha idéia é essa
Quando o barco chegar
Os caçadores descem
Para de novo caçar
E o barco abandonado
Fica na beira do rio parado

A gente aproveita a chance
Pula para dentro do barco
No leme pilota o macaco
Enquanto nos escondemos
Dentro das caixas vazias
Até a cidade vizinha.

Agora eles vão ver
O que vai lhes acontecer
Salvar o menino da selva
Para livrá-lo daquela cela
Sigam-me os bons
Anda! Ele é nosso irmão...

Depois que eles salvaram
O menino amigo da selva
Os caçadores os perseguiram
Até as profundezas da selva
O menino armou uma cilada
E a armadilha foi armada.

O menino comandou o ataque
Contra os caçadores de araque
Mandou o gorila pegar cocos
Que serviram de artilharia
E pediu à cobra e à aranha
Para picar suas banhas.

O leão com o seu rugido
Era grande e muito temido
O urso roubou o mel
Da colméia das abelhas
Que furiosas feito fel
Picaram suas bundas feias.

O menino comandante
Mandou os tatus perfurarem
Um grande buraco no chão
Cobriram com folhas e galhos
Para os caçadores enganados
Caírem no fundo dessa prisão.

O elefante serviu de estilingue
Que atirou todos os espinhos
Do pobre porco espinho
Que se escondeu pelado
No meio do grande mato
Fugiram os caçadores desesperados.

Depois da imensa confusão
Começou a comemoração
A bicharada cantava e berrava
A vitória que conquistava.
Essa é a minha história

Que conto para você agora.

cordelista Igor Magalhães Mc Quade

A bela adormecida


Menina tão linda
Criança amada
Sendo torturada
Pela bruxa malvada
Por não ter sido convidada
Para o seu batizado

Criança abençoada
Com sorte e bondade
E amaldiçoada pela
Bruxa malvada
Que não pára de
Dar gargalhadas

Moça tão linda
De pouca sorte
E muito invejada
Pela bruxa malvada
Sendo castigada
E enfeitiçada.

O feitiço concretizou
Com isso ela caiu
Desmaiada dormindo
Desamparada e a
Bruxa dando gargalhadas

Todo o reino dormiu
Nem um sapinho
Sobrou, foi quando
O cavaleiro viu um
Dragão e não pôde
Passar, teve que lutar

O cavaleiro matou
O dragão e veio correndo
Para ver seu amor
Que não acordou
Foi quando a beijou
E ela despertou

Todo reino acordou
Quando o príncipe
Contou que
Os dois iam se
Casar e depois
Iam viajar.

Quando eles chegaram
Falaram que ia ter
Um filho, todo o
Reino alegrou e
Gostou muito
E todos parabenizaram.

Mil e uma gargalhadas.

Nove meses se passaram
E o bebê chegou era
Um belo menino

que a princesa até chorou
E o príncipe sorriu
E de alegria chorou

Todos do reino foram visitá-los
E presentes levaram
E até uma cabra
O menino ganhou
A princesa emocionada
Ao povo agradeceu pela amizade

E o nome seu pai escolheu
E chamou-o de Romeu
E o menino cresceu
Um cavaleiro se tornou
Igual ao pai e para
O campo se foi

Aprendeu a lutar
como um guerreiro
para defender seu reino
seu pai o trono lhe
entregou para reinar
no seu lugar


cordelista Sabrina dos Reis

A princesa e a plebéia

Suas plebéias e seus plebeus
Por favor, ó gente meu deus!!!
Para eu contar a minha história
De plebéia e de princesa
Que brincavam no luar
Bonitas que uma beleza.

Era uma vez uma princesa
Que vivia no quarto de luz
O seu pai, um grande conde
Que é dono até de um bonde
Tem dinheiro e pode dar
Mas quer é só ganhar.

Do outro lado da cidade
Quem tinha só um gato
Era a plebéia que a vida
Era trabalhar e trabalhar
Para ganhar um beijo no ar
Mesmo assim não desistia.

A princesa era bem bonita
E a plebéia também era
Mas a maior coincidência
Era que gostavam de cantar
Nem sabiam dançar
Gostavam era de rodar.

A princesa tinha educação
Sabia escrever e ler
Coisa que a plebéia não sabia
Pois seu tempo era ter
Trabalho até doer
O tempo todo consumia.

Um dia a princesa
Foi dar uma passeada
Foi muito apressada
De cara feliz igual ao nariz
Saiu com o seu coelho
Que tinha o olho vermelho.

Passeou, passeou...
Viu pássaros voando
Viu aves cantando
Viu vários coelhinhos
Todos bem pequenininhos
E bem bonitinhos.

Viu árvores de todo jeito
Macieiras e bananeiras
Jabuticabeira, laranjeiras
Pessegueiro, mangueira
Mamoeiro e roseira
Viu até pé de pêra.

Voltou que era uma graça
Sem cara amarrada
Até a porta de sua casa
Os bichinhos a acompanharam
Queria uma vez mais passear
E sonhar que podia voar.

Neste mesmo dia a plebéia
Saiu também a passeio
Com laço de fita no cabelo
O vestido um pouco gasto
Mas bem passado e arrumado
No braço, o seu gato malhado.

Se encontraram na floresta
A princesa e a plebéia
Fizeram uma baita festa
Elas contaram identidades
Mostraram seus animais
Falaram suas idades.

A plebéia levou a princesa
Até sua casa na cidade
E descobriu que ela também
Gostava de rodar de verdade
Brincaram de cantar
E comeram doces à vontade

Neste dia se declararam
Amigas para sempre.
As duas se despediram
A plebéia para o seu trabalho
A princesa para o seu quarto

Amigas eternamente.

cordelista Rafaela Alves

O Gavião e o seu Violão


Era uma vez um gavião
Que se chamava leão
O gavião sempre gostou
De tocar violão
Esse gavião
Sempre se sentiu o bonitão

Ele gostava muito de festa
Sempre participou
De seresta
Saía para passear
E ficava até o sol raiar
Ele tinha muitos amigos

Alguns dos seus amigos são
A jibóia que gosta de dar jóia
A cascavel com seu veneno cruel
O leão com aquele seu jubão
O jacaré sempre mané
O grilo falante e sua gravata elegante

Teve uma festa
Que tinha seresta
O gavião
Com o seu violão
Ficou doidão,
Claro, para participar.

Nesta festa ele encontrou
Uma namorada,
Muito engraçada
Que se chamava Gargalhada
Ele não parava de namorar
Pois só sabia beijar.

Ele não tinha tempo,
Para ensaiar,
Nem para estudar
Ele era um namoradeiro
Só que alguns dias depois
Ele ficou pensando
No que estava se passando:

A sua namorada
Que era muito engraçada
E se chamava Gargalhada
Estava namorando
Com o grilo falante com a sua gravata elegante
Ele ficou muito magoado.

Estava para acontecer uma festa
Ele arranjou uma linda seresta
Com os pardais,
Que tocam demais
E o pavão
Que toca violão

Chegou o dia da festa
Que encantou a floresta
Com a seresta
Do gavião que toca violão
O gavião ficou famoso
E resolveu ir para o sertão.

A sua namoradeira
Ficou emocionada
Pediu desculpa
Ela falou alô eu sei tocar violão
E ele deu um presente:
Um beijão com o amor do coração.

A seresta
Viajou para o sertão
E o gavião continuou
Tocando violão
A sua namorada deu um presente
Um beijão do fundo do coração.

Nessa viagem
Ela e ele
Trocavam presentes
E viam muita gente
No final eles se casaram

E a seresta fez uma festa para Gargalhada.

cordelista Isabela Resende Lacerda

O Brasil


Vou apresentar a todos
A história do Brasil
Os portugueses que não são bobos
Aproveitaram riquezas mil
No litoral que foi achado
Do futuro país desejado

Lindo por natureza
Mas que era uma beleza
Tinha muitos animais
E muitas coisas mais
Árvores por todo lado
E ninguém foi convidado

Estou falando do Brasil
O país de cor anil
Encontraram então os índios
Que eram mesmo muito tímidos
Transformaram eles em escravos
Os índios de cor de mulato

Os portugueses ficaram
E o Brasil colonizaram
Acharam muitas riquezas
Encontraram também belezas
Trocaram seus presentes
Com os índios inocentes

Primeiro foi nome da ilha
Que recebeu da quadrilha
O chefe da esquadra era Cabral
Muito pau-brasil aqui tinha
Árvore de cor vermelhinha
Dela tiraram o nome Brasil
Terra rica de muitos rios
A mistura do meu povão
Deu o nosso Brasilzão

O pau-brasil do litoral
Levaram até Portugal
A árvore vermelha ia
E as roupas lá tingia
Para aquela gente metida
Tiravam da árvore toda a tinta

O nome Brasil foi dado
Ao nosso país amado
Eu não acho nada comovente
Dar aos índios presentes
O povo brasileiro desde então
Formou uma grande população

Trouxeram africanos a trabalhar
Mas eles nada podiam ganhar
Os escravos eram maltratados
E tudo lhes era negado
Até do direito à liberdade
Que aconteceu bem mais tarde

Quando Pedro I foi imperador
O país ganhou o seu libertador
Desde então o Brasil tem dívidas
Tem também muitas vidas
Foi assim que surgiu nosso povo
Lindo até dentro de um ovo.
Que vinha de Lisboa, Portugal
Chamou de Ilha de Vera Cruz

Ilha grande cheia de luz

cordelista Laísa Rodrigues Costa

Abecedário


Minha gente
estou carente
e com dor de dente
Só não fico doente
porque conto esse cordel
que caiu do céu

O abecedário
não era ordinário
mas sim ao contrário
ele era legal
conhecia um pica-pau
que lia um cordel de casal

Ele tinha letras especiais
que viravam palavras legais
Agora vou te apresentar as letras
que não usavam muletas
faziam caretas
a ficavam pretas

a letra A ria
a B era alegria
a C fingia
a D sonhava
a E gritava
e a F chorava

a letra G odiava a B
a H adorava a A
a I não gostava de sair
a J era uma marmota
a K virava a letra A
a L gostava da outra L

a letra M é tagarela
a N é amarela
a O era um xodó
a P era um bebê
a Q falava “o quê?”
a R assistia Tom & Jerry

a S era especial
a T era real
a U sentimental
a V era orgulhosa
a W era vaidosa
a X manhosa

A letra Y gostava de assistir Simpsons
A Z virava a V
E formava o ABCD
Que ajudava as pessoas a aprender
a ler
e a escrever

Quando você souber
o abecedário
vai crescer
e ter o seu salário
vai ser bom
sabe o que vai fazer?
Comprar um picolé da Kibon

Seja feliz igual sempre quis
mas não coma giz
sua professora vai precisar
para te ensinar
a ser honesto
e nunca deixar resto.

cordelista Débora Mc Quade